A sociedade civil traz para a política um sistema de representação de
interesses que os partidos não são mais capazes de exercer devido a sua
adaptação a um sistema privado de representação de interesses e
financiamento com o qual a sociedade não se identifica. Exemplos sobre a
incapacidade do Congresso Nacional de agir em defesa dos interesses do
povo abundam no Brasil. Lembremos a incapacidade de votar a união
homoafetiva, a ação afirmativa, de aprovar o Código Florestal, todas
legislações com fortíssimo apoio na sociedade, mas que não conseguiram
tramitar no Congresso devido a lobbies muito fortes. Em geral tem cabido
ao Supremo preencher esta lacuna, mas o mais democrático e o mais
adequado é um envolvimento maior da sociedade civil nestes temas por via
de instituições híbridas que conectem o executivo e a sociedade civil
ou a representação e a participação.
Este modelo, que está longe de ser fascista, está presente nas
principais democracias do mundo. Os Estados Unidos tem o modelo de
participação da sociedade civil no meio ambiente por meio dos chamados
“Habitat Conservation Plannings”. A França, nas políticas urbanas
através de contratos de gestão nos chamados “Quartier Difficile”. A
Espanha, no meio ambiente através de “juris cidadãos”. A Inglaterra
instituiu mini-públicos com participação da sociedade civil para
determinar prioridades políticas na área de saúde.
As principais democracias do mundo procuram soluções para o problema
da baixa capacidade do parlamento de aprovar políticas demandadas pela
cidadania. A solução principal é o envolvimento da sociedade civil na
determinação de políticas públicas. A justificativa é simples. Ninguém
quer acabar com a representação, apenas corrigir as suas distorções
temporais em uma sociedade na qual o nível de informação da cidadania
aumentou fortemente com a internet e as redes sociais e na qual os
cidadãos se posicionam em relação a políticas específicas. Ao introduzir
uma participação menos partidária e com menor defesa de interesses
privados na política tenta-se reconstituir mais fortemente este laço.
Assim, o que o decreto 8243 faz não é mudar o sistema de governo no
Brasil por decreto e nem instituir uma república fascista. O que ele faz
é aprofundar a democracia da mesma maneira que as principais
democracias do mundo o fazem, ao conectar mais fortemente sociedade
civil e Estado.
Gabriela Palombo
Vereadora e líder da bancada do PT
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