terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Avanços, apesar do preconceito

Principais mitos sobre a ineficiência das ações afirmativas mostram-se infundados. Luta contra racismo continua sendo um desafio

Por Gabriela Allegrini – Revista Caros Amigos
Em pouco mais de uma década de implementação das cotas para acesso ao ensino superior, as universidades públicas brasileiras tiveram mais negros matriculados no seu sistema de ensino do que em todo o século 20, aponta o presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, Hélio Santos. Além de possibilitar a inserção numa instituição tradicionalmente dominada pelas elites brancas, para ativistas do movimento negro, a grande contribuição das ações afirmativas foi pautar o tema da desigualdade racial na agenda pública. “Antes esse assunto não era discutido, em cima do alcance desse debate foi possível traçar mecanismos para construir a mudança de que precisamos e a manutenção do que já conseguimos”, diz o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente.
No ano 2001, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) foram as primeiras a criar cotas para negros nos seus processos seletivos, depois do primeiro ano em que o vestibular de ingresso reservou vagas para alunos vindos de escolas públicas. Em 2003, foi a vez da Universidade de Brasília (UNB) aprovar a criação das cotas raciais, numa iniciativa inédita entre as federais. A medida desperta, ainda hoje, calorosas discussões entre defensores e opositores do modelo de inclusão.
Na cartilha de quem é contra havia (e ainda há) o argumento de que tal sistema ajudaria a instalar o ódio racial dentro das salas de aula, com pobres e negros sendo hostilizados por brancos não cotistas. E que também haveria a falência do ensino superior gratuito ao admitir o ingresso de pessoas “despreparadas”, sem contar um alegado desnível no desempenho entre cotistas e alunos “capacitados”, com os primeiros fadados ao eterno atraso acadêmico. Os maus agouros ainda incluíam uma suposta evasão massiva dos negros que, ao não acompanharem o ritmo dos outros alunos, desistiriam do programa de inclusão; a degradação do próprio vestibular, pois aprovaria cotistas com notas insuficientes; e mais um catatau de argumentos apocalípticos que, uma década depois, pesquisas comprovam não ser realidade.


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