Principais
mitos sobre a ineficiência das ações afirmativas mostram-se infundados.
Luta contra racismo continua sendo um desafio
Por
Gabriela Allegrini – Revista Caros Amigos
Em pouco mais de
uma década de implementação das cotas para acesso ao ensino superior,
as universidades públicas brasileiras tiveram mais negros
matriculados no seu sistema de ensino do que em todo o século 20,
aponta o presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, Hélio
Santos. Além de possibilitar a inserção numa
instituição tradicionalmente dominada pelas elites brancas, para
ativistas do movimento negro, a grande contribuição das ações afirmativas
foi pautar o tema da desigualdade racial na agenda pública. “Antes
esse assunto não era discutido, em cima do alcance desse debate
foi possível traçar mecanismos para construir a mudança de que
precisamos e a manutenção do que já conseguimos”, diz o reitor da
Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente.
No ano 2001, a
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Estadual
do Norte Fluminense (UENF) foram as primeiras a criar cotas para
negros nos seus processos seletivos, depois do primeiro ano em que o
vestibular de ingresso reservou vagas para alunos vindos de escolas
públicas. Em 2003, foi a vez da Universidade de Brasília (UNB)
aprovar a criação das cotas raciais, numa iniciativa inédita entre as
federais. A medida desperta, ainda hoje, calorosas discussões entre defensores
e opositores do modelo de inclusão.
Na cartilha de quem
é contra havia (e ainda há) o argumento de que tal sistema ajudaria a
instalar o ódio racial dentro das salas de aula, com pobres e negros
sendo hostilizados por brancos não cotistas. E que também haveria a falência do
ensino superior gratuito ao admitir o ingresso de pessoas “despreparadas”,
sem contar um alegado desnível no desempenho entre cotistas e alunos
“capacitados”, com os primeiros fadados ao eterno atraso acadêmico. Os
maus agouros ainda incluíam uma suposta evasão massiva dos negros
que, ao não acompanharem o ritmo dos outros alunos, desistiriam do
programa de inclusão; a degradação do próprio vestibular, pois
aprovaria cotistas com notas insuficientes; e mais um catatau de argumentos apocalípticos que, uma década
depois, pesquisas comprovam não ser realidade.
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